Vamos por partes:
Berlioz wrote:
Para mim, essas memórias são estanque. Se outro vem, vem e faz as dele, as minhas estão no tempo delas, que tenho eu com isso? Se a minha chance acabou, acabou... Ou não devia ter largado, ou as coisas simplesmente não estavam bem para pelo menos um dos lados de qualquer maneira.
As coisas acabam porque não estão bem, certo, mas durante a relação houve uma altura em que nem pensavas em acabar as coisas, em que estava tudo bem. É essa altura, essas memórias, que acabam por ficar. A relação até pode ter acabado da pior maneira possível, e durante uns tempos nem queres ouvir falar dela sequer, mas isso passa, e aí começas-te a lembrar das partes boas. Something to do with our brain, temos tendência a acabar por esquecer ou amenizar as memórias más e exaltar as melhores. Tu agora podes estar a dizer que reages de certa maneira no caso de um fim de namoro, mas tu nunca passaste por isso, portanto, por muito que imagines a situação na tua cabeça e penses que vais reagir como imaginaste, levar com as coisas na cara é diferente. Falas sem conhecimento de causa.
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Portanto basicamente toda a gente aqui deseja secretamente que as suas ex não tenham mais intimidade com quem quer que seja para o resto da vida, e se ela insistir nessa louca ideia, mais vale que seja com um estranho do que com um amigo, que é tecnicamente alguem de quem se gosta?
Acho que aqui ninguém deseja secretamente tal coisa, tás a exagerar tudo again. Depende de como as coisas foram e de como acabaram com a tal pessoa, mas não vou desejar que uma ex minha nunca mais seja feliz com ninguém, nem é isso que está aqui em causa. Se ela quer ser feliz, que seja. Se essa ideia envolver "ser feliz" com um amigo meu, aí ja entra por outro caminho. Se por um lado faz sentido imaginar que estaria bem entregue ao ter uma relação com alguém que eu conheço e confio, por outro lado vai existir toda uma partilha de intimidade com a qual não me sinto confortável. Isso a juntar ao facto de que te ficam na memória os tais momentos felizes, e ao vê-los juntos vai ser inevitável presenciares alguns desses momentos. Isso é estranho. Numa altura em que estejas sozinho(solteiro), veres a tua ex a partilhar tanto com um amigo e vê-los felizes juntos deixa-te desconfortável, com sentimentos mistos entre a felicidade, por veres pessoas próximas de ti felizes, e a "inveja" por tudo aquilo já ter sido um dia teu e agora estares sozinho. É algo complicado de se explicar, envolve muito mais do que os sentimentos que estou a mencionar aqui, só mesmo vivenciando. Mais uma vez é algo de que não podes falar só imaginando a situação sem nunca ter estado presente. Mas atenção que nem toda a gente é igual, estou a falar por linhas gerais e da experiância própria que tenho. Existem coisas que obviamente variam de pessoa para pessoa.
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Isso é então o cúmulo do egoísmo, tanto para a ex como para o amigo, já que não se quer que a ex volte a partilhar o que quer que seja de íntimo com outra pessoa, e para se querer isso com tanta força é porque ela deixou memórias mesmo boas, tão boas que nem um amigo as merece.
Isto não faz o mínimo sentido, desculpa. É pelas linhas do que ja disse acima, se ela quer ser partilhar a sua felicidade com alguém, que não um amigo meu, não a vou impedir. A vida é dela, é livre. Os meus amigos, também merecem todas as boas memórias que conseguirem ter, e não lhes desejo outra coisa. O facto de Amigo e Ex ser incompatível não torna isso egoísmo. É basicamente uma "norma social/moral" geralmente aceite, que, se se tornou assim por alguma razão foi. Tal como os "saberes populares", existe todo um background que levou a isso, experiências passadas e as conclusões das mesmas levou a isto: Ex e a amigo é incompatível porque, regra geral ( e nada é simplesmente Preto ou Branco ) vai criar conflitos desnecessários. Ás vezes acontece, e aí cada caso é um caso. Falam-se das coisas, tenta-se resolver tudo calmamente e se tiver de acontecer acontece. Mas, é visto como algo a evitar de forma a prevenir todos esses conflitos e sentimentos mistos que daí podem advir.
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Cria-se portanto um "bro code" para que o inevitável aconteça o mais longe possível, porque ninguém vai andar atrás das ex a dar porrada em cada estranho que se interesse por ela. Com esse "bro code" socialmente aceite, os amigos são obrigados a aturar comportamentos infantis, que são o equivalente a mijar nas ex como se a "alcateia" de amigos tivesse de as reconhecer como território marcado, como se as pessoas não fossem livres de fazer escolhas e as outras de viver com elas.
Depois entras no simplesmente ridiculo. Quem há uns posts atrás pregava que as palavras têm um peso, agora fala dos amigos como "alcateia" ( os teus amigos são animais, é ? ), e mijar nas ex (nem merece comentário). Não se trada de nenhum "bro code" como se fosse alguma regra secreta "da street" que só alguns seguem. Existem diferentes tipos de normas sociais: Talvez se entrares num grupo de ciganos a norma seja andar a gamar 'móveis e etc, e entre eles 'tá-se bem, é o que as pessoas fazem, mas, visto de fora, não é preciso grande cérebro pra perceber que isso não é moral nem socialmente bom. Neste caso estamos a falar de uma norma que pretende evitar conflitos e manter as tuas amizades, não vejo nada de errado aí. Claro que nothing good comes free, portanto as vezes para teres algo de bom e manteres aquilo que tens, existem sacrificios a fazer. Não me parece um sacrificio assim tao grande neste caso, considerando as outras hipóteses. But as i said, cada caso é um caso e nada é preto e branco.
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Afastam-se portanto não só da ideia óbvia de que se acabou, vai começar com mais alguem, mas também se afastam da chatice que é lidar com uma discordância, porque aparentemente os amigos não têm vontade própria, e o seu único trabalho é garantir o bem-estar dos outros amigos. É conveniente.
Sim, é conveniente ter uma regra que evita que exista merda cos teus amigos. Também é conveniente que existam leis. Se calhar nao concordo com todas, mas não é por isso que deixo de respeitar. Estão lá pra reger uma sociedade estável, porque sim, é conveniente evitar discordâncias. Duvido que até tu gostes de estar em conflito com alguém, tal como qualquer pessoa. Não é conveniente que existam regras pra evitar isso ?
Amigos, que realmente sejam amigos, preocupam-se com o bem estar mutúo. Não vejo nada de errado com isso.
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Se é para tar nesse limbo de consciência, nessa zona entalada em estado de negação, fingindo que o inevitável não acontece, prefiro ser prático e aberto. Regras para minimizar fricção são uma coisa, mas isto a mim soa-me a negação total, o que é francamente uma pieguice. É basicamente colocar-se na posição de poder culpar o amigo por um problema cuja origem não está nele.
Negação ? Como eu disse já, varias vezes, nao tenho nada contra a minha ex ir namorar com outra pessoa, mas se for meu conhecido, trata-se cada caso como um caso. Não finjo que ela nunca mais ira namorar na vida, não vivo num estado de negação. Se uma ex quiser namorar um amigo meu ( ou vice versa ), sim, mais vale ser prático e aberto, conversar, debater, resolver as coisas. Mas será isso tudo necessário ? Entrar por um caminho incerto, em que no fim provavelmente vais ter de escolher entre uma de duas pessoas ( Manténs um amigo, ou ganhas uma namorada ), não parece ser a escolha mais atractiva quando existe sempre a possibilidade de conhecer alguém novo igualmente atractivo, sem o "extra" de criar tensão no teu grupo de amizades.
Mas.. Pieguice ? Pensa bem e diz-me se achas que foi tudo só uma pieguice.
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Se se eleva o estatuto de amigo a um ponto tão alto e importante, esse amigo deveria então ficar feliz pela ex estar com outra pessoa de quem ainda por cima se gosta também. Não vou ser naive e dizer que não há sofrimento, mas ser-me-ia preferível que a pessoa ficasse à guarda de alguém de quem gosto. Se isso não acontece, se se fecham as possibilidades todas e se guardam as exs como num harém em negação, então não entendo o que é um amigo vosso, visto que não tem direito a encontrar algo de bom noutra pessoa pelo azar de não ter funcionado convosco.
Não se fecham todas as possibilidades.
Branco e preto, etc, isto ja está tudo respondido.
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O objectivo aqui é qual? Minimizar o sofrimento próprio porque é inconveniente ou deixar liberdade aos outros e desenvolver resistência emocional como uma pessoa crescida?
Resistência emocional é nao ires chorar pra um canto e cortar os pulsos quando o namoro acaba. Tambem nao classificaria o sofrimento proprio como um simples "inconveniente". Aqui trata-se de sacrificios mutuos para um bem geral, como pessoas crescidas que sabem que na vida é preciso isso para ter resultados positivos. Um namoro entre ex e amigo iria causar mais sofrimento a todos os envolvidos do que tentar retrair esse sentimento, ou tentar resolver as coisas otherwise. Do mal o menos.
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Se é nestes moldes que se rege a mentalidade masculina, então terei de admitir que a mentalidade feminina está anos-luz à frente neste campo. Não sei que razões terão, mas que ao menos são mais flexíveis são.
A mentalidade feminina simplesmente funciona de outra maneira, tal como o estrogenio e a testosterona teem efeitos diferentes no teu corpo ( a nivel emocional ). Se as mulheres acham que ex de uma amiga é "apetitoso", sao capazes de tentar alguma coisa sem remorsos. No entanto, esta é a mesma mentalidade que provavelmente vai falar mal pelas costas das amigas que o fazem. Não vou divagar muito nesta parte porque estaria a falar do que nao sei, mas nao podes simplesmente classificar uma forma de pensamento como "mais avançada" sem teres os factos todos. Conhecimento de causa.
nikA wrote:
Bom, (...)
Se a ti não te faz confusão, óptimo. A mim faz e muita.
Faz tanta, que amigo que me faça isso, deixa imediatamente de o ser.
Quando falei de partilhar intimidades, lá mais atrás, era isto. Thanks for clearing that.
TL;DR - Ex de amigo é "homem", é "bros befores hoes", é pra se evitar, etc etc. Mas como tudo na vida, as coisas nao são preto ou branco, e cada caso é um caso, a ser debatido como tal. Se existe uma regra pra evitar conflitos neste caso, uma norma moral e social que evita que as coisas dêem pro torto, porquê argumentar contra ? Trata-se de ser um homenzinho crescido e respeitar os outros, e as "crenças" ( sejam de que tipo forem ) deles.