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Militares encerram nas Honduras rádio e televisão “pró-Zelaya”
Uma rádio e uma estação de televisão das Honduras, Rádio Globo e Canal 36, foram encerrados pelo Governo instituído após o golpe de Junho que depôs o Presidente Manuel Zelaya. Zelaya está há uma semana na embaixada do Brasil em Tegucigalpa e pediu à comunidade internacional que “reaja imediatamente, antes que algum dirigente seja morto”.
A Rádio Globo e o Canal 36 eram considerados dois órgãos de informação próximos de Zelaya. Através da Rádio Globo, Manuel Zelaya fizera um apelo a manifestações em todo o país para protestar contra o golpe. “Apelo à mobilização de todo o país, e dos que puderem vir a Tegucigalpa para uma ofensiva final”.
A embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde Zelaya se encontra fechado desde que conseguiu voltar às Honduras, a 21 de Setembro, continua cercada por centenas de militares e polícia antimotim. Hoje houve manifestações de apoiantes de Zelaya, e foi para evitar a difusão de notícias sobre os protestos que o Governo instituído após o golpe, liderado por Roberto Micheletti, ordenou o encerramento da rádio e da televisão.
“As tropas tomaram a rádio de assalto, assumiram o seu controlo e tiraram-na do ar”, contou à agência Reuters o director da Rádio Globo, David Romero.
A suspensão das emissões seguiram-se a um decreto publicado pelo Governo de Micheletti, em que foram suspensos cinco direitos constitucionais, noticiou o diário espanhol "El País": liberdade pessoal, liberdade de expressão, liberdade de associação, livres circulação e direitos dos detidos.
Estado de sítio
O decreto foi publicado no sábado, dia 26, mas só ontem foi divulgado pelos órgãos de informação. Foi também decretado o estado de sítio nas Honduras, por 45 dias.
Não muito longe da Rádio Globo, também o canal 36 foi tomado pela polícia, que se apresentou com um documento emitido pelo organismo que tutela as telecomunicações nas Honduras a ordenar o encerramento por “atentado à ordem pública”.
Manuel Zelaya considerou o decreto publicado pelo Governo de Micheletti “uma barbaridade indigna” e apelou à “resistência pacífica”.
Vários apoiantes de Zelaya juntaram-se na Universidade Pedagógica de Tegucigalpa, que tem sido o ponto de partida para vários protestos contra o golpe militar. Samuel Trigeros, um dos dirigentes da resistência ao golpe, contou à AFP que o objectivo era percorrer as ruas de Tegucigalpa “pacificamente”.
O Governo interino já tinha dado dez dias ao Brasil para decidir sobre o futuro de Zelaya, mas o Presidente Lula da Silva rejeitou o ultimato e defendeu que a embaixada está protegida pela lei internacional.
Zelaya estava fora das Honduras desde Junho, quando os golpistas o acusaram de querer manter-se indefinidamente no poder. Tinha convocado um referendo para criar uma assembleia constitucional que poderia mudar a Constituição, para permitir ao Presidente disputar mais do que um mandato. O golpe foi condenado pela comunidade internacional, que apelou ao regresso de Zelaya e à sua manutenção no cargo até às eleições previstas para Novembro.
Regresso "irresponsável"
O representante dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA), Lewis Amselem, qualificou como “irresponsável” o regresso do Presidente deposto Manuel Zelaya às Honduras.
Zelaya tinha tentado voltar às Honduras pouco após o golpe militar de 28 de Junho, mas apenas atravessou alguns metros para lá da fronteira com a Nicarágua e voltou para trás para evitar ser detido, até que a 21 de Setembro conseguiu alcançar a embaixada do Brasil em Tegucigalpa.
“O regresso do Presidente Zelaya às Honduras, sem que tivesse havido um acordo, foi irresponsável e não serve os interesses do povo hondurenho nem daqueles que trabalham para o restabelecimento pacífico da ordem democrática nas Honduras”, disse Amselem, num encontro da OEA sobre a crise nas Honduras que ontem se realizou em Washington.
As declarações do representante norte-americano foram consideradas uma mudança de tom em relação à posição manifestada pela secretária de Estado Hillary Clinton no dia do regresso de Zelaya. Nessa altura Clinton considerou que, após o regresso do Presidente deposto, “será oportuno restabelecê-lo nas suas funções, realizar as eleições marcadas para Novembro, garantir a transição pacífica da autoridade presidencial e restabelecer a ordem constitucional e democrática nas Honduras”.