Berlioz
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Posted: 15 Jan 2013, 00:29 |
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Joined: 12 Jan 2009, 01:28 Posts: 3167
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Para mim, essas memórias são estanque. Se outro vem, vem e faz as dele, as minhas estão no tempo delas, que tenho eu com isso? Se a minha chance acabou, acabou... Ou não devia ter largado, ou as coisas simplesmente não estavam bem para pelo menos um dos lados de qualquer maneira.
E nika, eu pessoalmente não tenho problemas que as pessoas acabem por saber coisas da minha relação. Não vejo porque teria de as esconder ou recear que outros as soubessem.
Portanto basicamente toda a gente aqui deseja secretamente que as suas ex não tenham mais intimidade com quem quer que seja para o resto da vida, e se ela insistir nessa louca ideia, mais vale que seja com um estranho do que com um amigo, que é tecnicamente alguem de quem se gosta?
Isso é então o cúmulo do egoísmo, tanto para a ex como para o amigo, já que não se quer que a ex volte a partilhar o que quer que seja de íntimo com outra pessoa, e para se querer isso com tanta força é porque ela deixou memórias mesmo boas, tão boas que nem um amigo as merece.
Cria-se portanto um "bro code" para que o inevitável aconteça o mais longe possível, porque ninguém vai andar atrás das ex a dar porrada em cada estranho que se interesse por ela. Com esse "bro code" socialmente aceite, os amigos são obrigados a aturar comportamentos infantis, que são o equivalente a mijar nas ex como se a "alcateia" de amigos tivesse de as reconhecer como território marcado, como se as pessoas não fossem livres de fazer escolhas e as outras de viver com elas.
Afastam-se portanto não só da ideia óbvia de que se acabou, vai começar com mais alguem, mas também se afastam da chatice que é lidar com uma discordância, porque aparentemente os amigos não têm vontade própria, e o seu único trabalho é garantir o bem-estar dos outros amigos. É conveniente.
Se é para tar nesse limbo de consciência, nessa zona entalada em estado de negação, fingindo que o inevitável não acontece, prefiro ser prático e aberto. Regras para minimizar fricção são uma coisa, mas isto a mim soa-me a negação total, o que é francamente uma pieguice. É basicamente colocar-se na posição de poder culpar o amigo por um problema cuja origem não está nele.
Se se eleva o estatuto de amigo a um ponto tão alto e importante, esse amigo deveria então ficar feliz pela ex estar com outra pessoa de quem ainda por cima se gosta também. Não vou ser naive e dizer que não há sofrimento, mas ser-me-ia preferível que a pessoa ficasse à guarda de alguém de quem gosto. Se isso não acontece, se se fecham as possibilidades todas e se guardam as exs como num harém em negação, então não entendo o que é um amigo vosso, visto que não tem direito a encontrar algo de bom noutra pessoa pelo azar de não ter funcionado convosco.
O objectivo aqui é qual? Minimizar o sofrimento próprio porque é inconveniente ou deixar liberdade aos outros e desenvolver resistência emocional como uma pessoa crescida?
Se é nestes moldes que se rege a mentalidade masculina, então terei de admitir que a mentalidade feminina está anos-luz à frente neste campo. Não sei que razões terão, mas que ao menos são mais flexíveis são.
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